terça-feira, 28 de dezembro de 2010

OTAVIANO DE ASSIS ROMEIRO MAESTRO FON – FON

Maestro Fon-Fon
O Alagoano que encantou o Brasil e a Europa.
Regente, arranjador, instrumentista e compositor.

Por: Chico de Assis


Nome Completo : Otaviano de Assis Romeiro
Data de Nascimento : 31 de Janeiro de 1908
Naturalidade : Santa Luzia do Norte, Alagoas, Brasil
Instrumentos : Saxifone, Clarinete , Flauta e Pífano.
Gravadoras : Odeon, Columbia , Continental e London.
Data de mo
rte : 10 de Agosto de 1951 em Atenas ,
Grécia.








Igreja de Santa Luzia do Norte AL
Otaviano de Assis Romeiro nasceu no dia 31 de janeiro de 1908, em Santa Luzia do Norte, Alagoas, onde a tradição musical é preservada e transmitida por gerações. É comum vê-se em Santa Luzia do Norte músicos de todas as idades tocando seus instrumentos musicais em diversos lugares da cidade. Seja na escola de música, em casa, no coreto ou na calçada da Igreja. Os músicos se reúnem e tocam belas melodias, para o deleite da população e dos que visitam a cidade de Santa Luzia.




Otaviano de Assis Romeiro, filho de Amaro Romeiro e Luzia de Assis, iniciou suas atividades musicais ainda criança; aos oito anos de idade em sua terra natal; tocando numa Zabumba – Banda de pífanos - grupo musica pertencente a família Mugumba que moravam no povoado do quilombo.
Quando rapaz, foi para Recife – PE estudar no colégio Batista, mas logo abandonou a escola e voltou para Santa Luzia do Norte, onde após certo tempo apoiado pelo seu tio Gustavo Romeiro embarcou para São Paulo.
Chegando em São Paulo, resolveu permanecer na capital e ingressou no batalhão de Polícia, pensando em participar da banda. Seu desejo não foi possível se concretizar, pois não sabia ler música. Voltou para Maceió- AL, onde passou a trabalhar como correntista em um escritório na cidade de rio Largo.
Nessa mesma época começou a estudar música.
Em 1927, transferiu-se para o Rio de Janeiro, para servir no 2° regimento de infantaria.
Com o mestre garrafinha, contramestre da banda do regimento, aperfeiçoou seus conhecimentos musicais, estudando saxofone.
O apelido Fon-Fon, foi-lhe dado pelo clarinetista Dedé, companheiro de regimento, porque, quando Otaviano tocava saxofone, não conseguia tirar os agudos do instrumento e o som saía sempre parecido com fon fon.
Por essa época, começou a tocar em “ dancings “. Numa festa em que Dedé faltou, Fon – Fon substituiu-o na clarineta, interpretando com muito sucesso, You Are Meantfor Me.
Em 1930, deixou o Exército e passou atuar em diversos conjuntos, e com um deles fez uma viagem á Argentina como integrante da orquestra de Romeu Silva, onde permaneceu por um ano.
Em 1932, fez sua primeira gravação, interpretando ao saxsofone o choro “ Cláudio “, de Paulino de Oliveira Santos, com acompanhamento de conjunto regional.
Em 1935, criou sua própria orquestra, para atuar no Cassino Assyrio no rio de Janeiro, e que contou, entre outros, com Zacarias na clarineta, Fats Elpídio no piano, Pernambuco no piston e Moysés Friedman na bateria.
Fon Fon e sua orquestra na posse do presidente do Uruguai
Foi o primeiro maestro de orquestra no Brasil a utilizar naipes de saxofones e metais, dando a sua orquetra uma sonoridade especial. Em 1941, excursionou com sua orquestra pela Argentina. Em 1942, acompanhou com sua orquestra , na ODEON, Ataulfo Alves e sua Academia na gravação do clássico samba “ Aí que saudades da Amélia “, de Ataulfo Alves e Mário Lago.
Ataulfo Alves (cantor e Compositor) e Mario Lago (ator, escritor e compositor)
Em 1944, gravou com sua orquestra na ODEON a polca “ Rato, rato “, de Casemiro Rocha e Cláudio Manoel da Costa eo choro “ Deixa por minha conta “, de Orlando costa, o cipó. No mesmo ano, a cantora Odete Amaral, gravou seu choro “ murmurando “, com lera de Mário Rossi e interpretado por Odete Amaral, que se tornou um Clássico do choro cantado.
Odete Amaral com o disco Murmurando

Murmurando

Música de Fon – Fon e letra de Mário Rossi
Murmurando esta canção
Eu sei que meu coração
Há de suplicar amor
Vem matar tanta dor
já não há lua de mel
Nem, mais estrelas no céu
Um anel de ambições
Envolveu irmãos
E será um poder fatal
Se o bem não vencer o mal.
Amor, tanta dor há de chegar ao fim´
É melhor bem melhor amar
E viver sem imitar caim
Por que mentir, trair , matar
Em vez de amar. A missão de perdão
Será que a negra escuridão Do grande rei, o criador
Pode apagar a luz do sol? Que ao expirar
Será que o nosso coração Sobre o tabor
Pode viver sem o crisol Quiz imortalizar
E Jesus ao levar a cruz além O amor.
Não deixou de pregar
o Amor ao bem
Por essa e todas as razões
Quero mostrar aos meus irmãos

Na ODEON, acompanhou, entre outros, Francisco Alves, Gilberto Alves, Ataulfo Alves, Odete Amaral, Jararaca e Ratinho, Dircinha Batísta, Moreira da Silva, Joel e Gaúcho, Almirante, Emilinha Borba, Raul torres e Serrinha e Aracy de Almeida.
Araci de Almeida. Grande Interprete e Amiga de Fon Fon

Fon – Fon também dirigiu e acompanhou com sua orquestra; Dalva de oliveira, Herivelto Martíns, Orlando Silva e Carmem Miranda.

TRIO (DALVA, HERIVELTO) COM DISCO AVE MARIA NO MORRO
Orlando Silva com o disco Olhos Magos

Jararaca e Ratinho
Em 1945, gravou com sua orquestra a valsa “ Turbilhão de amor “ e o choro “ ODEON “, Ernesto Nazareth. Em 1946 gravou os choros “ Um baile em Catombi “, de Eduardo Souto e o famoso choro “Murmurando “, de sua autoria, e também seu grande sucesso. Em 1947, gravou com sua orquestra os choros “Urubu Malandro , de Lourival Carvalho e “ Remeleixo “, de Felisberto Martins e com sua orquestra e coro Odeon os frevos canção “ já vai tarde “, de Nelson Ferreira e “ Você não pensou “, de Rotílio Santos. No ano seguinte, gravou com sua orquestra, mais dois choros de Eduardo Souto, “ No meu tempo era assim “ e é assim que eu gosto “.
Carmen Miranda e Elizete Cardoso
Francisco Alves com discos Perfídia, Canção do expedicionário e Mocidade Feliz

Ainda em 1947, recebeu convite do Club Champs Elysées e foi com sua orquestra para París, permanecendo na Europa por quatro anos, apresentando-se em diversos com imenso sucesso. Nessa excursão, gravou pelo selo London o LP “ Fon – Fon Et as musique du Brésil “, não editado no Brasil.

Fon-Fon e Capa do LP London
Durante essa excursão, passando vários dias de intensa atividade, Fon – Fon adoeceu. Apresentando-se em Atenas na Grécia com a saúde já debilitada e sem o devido repouso, quando regia a sua orquetra, Fon – Fon sentiu-se mal e veio á falecer a caminho do hospital.
Fon – Fon foi o primeiro maestro de orquestra com naipes de saxofone e metais ( trombones, trompetes ), com uma sonridade característica e indetificável, contribuindo também para o sucesso de diversos cantores importantes que acompanhou e dirigiu.



Fon – Fon. O Alagoano que encantou a Europa.


Fon Fon e seus músicos em Londres


Fon Fon e sua esposa Helena Souveral no Egito.
Fon Fon e seus músicos em Roma – Praça de São Pedro - Itália

FON FON - ENTREVISTAS - ‘’ALAGOANO CABRA DA PESTE’’



‘’Sou muito agradecido ao Sr. Assis Chateaubriand por todo o apoio que tem me dado na divulgação do meu trabalho. Ele tem uma maneira peculiar de saldar-me, quando encontra-me, chama-me; Alagoano cabra da peste’’
Assis Chateaubriand e Getúlio Vargas fãs de Fon Fon.
Entrevista ao jornal O Globo: Trechos
- “ O meu amigo pernambucano Nelson Ferreira, fez um frevo – canção chamado “Bem-te-vi “,
que é uma jóia.” Toco esse frevo por onde passo e é um sucesso.’’

· Trechos da entrevista concedida e publicada na revista francesa “ Le Monde de La musique.”
- ‘’ Constantemente recebo cartas do Brasil e em várias delas perguntam - me como estou na Europa do pós-guerra.’’
Respondo : Vim para a Europa à convite do Club Champs Elysées. A França é um lindo país e recebeu-nos de braços abertos. Sinto-me em casa. Sei que a Europa passa um momento delicado. Pois vê-se no rosto do seu povo marcas de profundo sofrimento provocado pela catástrofe da guerra.
No Brasil orquestrei muitas músicas de cunho patriótico, nossos soldados vieram lutar aqui na Europa, fazendo parte das forças aliadas.
O presidente Getúlio Vargas pediu para que fizesse-mos apresentações nas ruas e rádios, falando da bravura de nossos soldados. Fiz várias apresentações com cantor Francisco Alves.
Imagino, que tenho uma missão aquí. Uma delas é divulgar a música brasileira pelo velho continente a outra e talvez e a mais nobre delas seja levar alegria a esse povo.
A França é mais que um sonho... Como gosto desse país.
Tocamos a marselhesa, sempre quando iniciamos e encerramos as apresentações da orquestra e fazemos com imenso respeito e alegria, pois é um belo hino e o patriotismo do povo francês é contagiante.
Perguntaram-me se o nosso chorinho era o jazz brasileiro, respondi:
- “ O jazz é o jazz e o chorinho é o chorinho”.

Sobre a música brasileira:
· Tenho plena consciência da importância da música Brasileira no mundo.
· Nosso geito de ser é diferentes e isso interfere em nossa sonoridade musical, sem falar na nossa mistura de raças, o nazismo nunca daria certo no meu pais o Brasil. Nossa orquestra executa músicas de vários países, mas quando tocamos a música brasileira; samba, chorinho, frevo, o público daqui fica encantado... Aquarela do Brasil do Ary Barroso é uma das mais tocadas.
· O Brasil é um país muito querido e ficamos felizes por isso.

Sobre sua vida:

Minha memória leva-me sempre á cidade em que nasci, Santa Luzia do Norte, Alagoas no Nordeste do Brasil.


Lá no povoado do Quilombo, tinha uma banda de “ pífanos “, que tocava nas ruas de Santa Luzia.
Pífano é um instrumento de sopro, artesanal; feito de madeira e que tem um som muito bonito, dá um agudo que não se consegue tirar em outro instrumento.
Essa banda de pífanos, pertencia a uma família chamada “ Mugumba”. Eu ficava admirado olhando eles tocarem. De tanto acompanhar a banda, um dia deram-me um pífano para eu tirar uma música. Daí prá frente, não parei nunca mais. Não fosse aquele gesto, eu não estaria hoje aquí na Europa.
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Cartas enviadas para a Família:
Trecho da carta escrita para a irmã; Vicentina Romeiro.
- “ Centina, primeiro que tudo espero encontrá-la bem de saúde.
Hoje tive uma emoção sem igual.’’
No show aquí em Madrí tocamos a música Touradas em Madrí do Braguinha.
Foi lindo, os espanhóis adoraram. “ Só não encontrei uma espanhola natural da Catalunha “
Estou morrendo de saudades de vocês e de comer um sururu de capote aí em Santa Luzia.”
Um beijo, minha irmã querida “
Otaviano Romeiro.

Carta ao pai com cartão da Grécia
Fon Fon envia em Dezembro, carta ao seu pai; Amaro Romeiro descrevendo os momentos que vivia na Europa. A carta chegou a Santa Luzia do Norte onde residia seu pai, no mês de Janeiro de 1951.

Meu Pai.
“ Não podia deixar de lhe comunicar a minha última parada.
No momento encontro-me na Grécia, onde todos os costumes são diversos de toda Europa.
Deixei de lhe escrever estes meses, porque não me demorei em nenhum país, mais um mês, de modo que espero demorar no mínimo três meses neste belo país.
Pretendo seguir depois para o Brasil. Já me encontro cansado de todos os dias a mesma luta e sem esperança de mais nada. Conheço toda Europa, elevei a música do nosso país. Fiz a música brasileira ser conhecida, embora monetariamente não me tenha dado resultado. Porém estou contente com o que Deus me deu.
Aquí deixo o meu abraço a todos da nossa família, desejando um ano
Cheio de felicidades e próspero ( 1951 ).
Minha benção e que Deus os guarde.
Otaviano Romeiro. “
Essa Carta foi escrita em dezembro de 1950 após o natal, vindo Fon Fon á falecer em agosto de 1951 em Atenas – Grécia, momento em que regia sua orquestra durante uma apresentação.
Palávras do músico que encontrava-se no instante em que ocorreu o sinistro.
Nós estava-mos fazendo uma apresentação em noite de gala em Atenas na Grécia.

“ O mestre Fon Fon regia a orquestra, emocionado como sempre fazia.
Por instantes, obesrevei que ele estava ofegante e seus movimentos diminuindo.
Seu braço não conseguia fazer subir a batuta para a regência.
Ele fez um gesto para que me aproximasse.
Chegue próximo à ele e falei:
- Pois não mestre!
O mestre então falou-me quase sem voz:
- “ Bizoca, diga ao pessoal que vou sair um pouco, mas já volto “.
Nesse momento abraçou-me e pediu-me para levá-lo ao camarim.
Lá já estava sua esposa, D. Helena que massageava seu peito e falava:
- “ Otaviano, Otaviano! “
O mestre Fon Fon, ofegante pedia para que dissesse aos músicos que não parassem de tocar.
- “ Bizoca, diga para não pararem, fale para continuarem tocando...”
Eu disse que estavam todos apreensivos. Mesmo assim ele insistiu;
- “ Diga a eles que eu estou bem e que a orquestra tem que continuar . Vá e faça a regência, toque música brasileira alegre “.
- Voltei para o palco para reger a orquestra e quando retornei a ambulância já o havia levado para o hospital de Atenas
- Soube depois que ele faleceu à caminho do hospital em Atenas.

Ficamos na Europa bastante tempo até o embarque do corpo do mestre Fon Fon para o Brasil que foi feito por um navio.
A orquestra continuou fazendo suas apresentações.
A comunicação da morte do maestro Fon Fon, chegou a Santa Luzia do Norte, através de um telegrama enviado para sua irmã; Vicentina Romeiro, pelo Diplomata e homem de teatro Paschoal Carlos Magno.
Seu corpo chegou ao Brasil no Navio enviado pelo Presidente Getúlio Vargas.

Anúncio do Jornal O GLOBO
Fon Fon no Rio de Janeiro.

Fon Fon, gravou muito e de tudo. Observando os selos dos discos vemos que o maestro tanto gravou com sua orquestra, como com a orquestra Odeon sob sua direção.
Fon Fon também orquestrou várias músicas de fundo patriótico, dentre elas a “ Canção do Expedicionário Brasileiro “. O Brasil nessa época viva um momento muito ufânico, nossos soldados estavam em combate nos campos da Itália contra o nazi-facismo.
O maestro fez arranjos a acompanhou os mais célebres cantores da época, tais como:
Aracy de Almeida, Jararaca e Ratinho, Elizete Cardoso – que cantou pela primeira vez profissionalmente sob a regência de Fon Fon -, Orlando Silva, Francisco Alves etc...
O que mais gravou com sua regência, foi Francisco Alves, mais conhecido como; “ O Rei da Voz “, comprovando definitivamente a importância que exerceu no mundo artístico.


Agradecimentos,
Antonio Romeiro (in memorian)
Claudevan Melo
Rivadavia Romeiro (Sobrinho do Fon Fon)
Tereza Romeiro (Sobrinha do Fon Fon)
Madalena Oliveira (Cantora e Acadêmica da ALANE)
Eduardo Assis (Publicitario)
Frederico da E. Rodrigues
Enio Lins
Marcos de Farias Costa
Rita Romeiro
Leninha Romeiro (Sobrinha do Fon Fon)
Maria de Farias
Sociedade Musical Porf. Wanderley (Santa Luzia do Norte)
Sociedade Musical Independente (Santa Luzia do Norte)
Eduardo Bomfim